quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Marcas.

Olha para trás. Vê tudo o que passou, tudo o que ficou, tudo o que resta. Observa. As marcas são visíveis. Não fisicamente, mas psicologicamente. Olha o que eu era, o que tu foste e o que hoje somos. Vê como evoluí. Como está remendado. Observa cuidadosamente, as linhas tortas, da amargura e tristeza. As lágrimas derramadas. Mas observa também com mais cuidado ainda, o notável contraste das linhas rectas, a nossa auto-estrada para a felicidade. Está cheia de vida, de cor, de verbos, palavras e emoções. O futuro. Vais desperdiçar? 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011



(...)
Tinha agora 7 anos e estava no 2º ano. Começámos a ter alguns problemas financeiros e isso obrigou a minha mãe a ter de trabalhar. No inicio, a ideia pareceu-me um pouco estranha mas ao mesmo tempo uma óptima ideia - como é óbvio, não estava a ver as consequências da coisa.
Foi então que a minha mãe me entrega para a mão a chave de casa e me diz: " Não a percas na escola, tens de ganhar alguma responsabilidade. Tem cuidado na passadeira! Primeiro olhas para a esquerda, depois para a direita e voltas a olhar para a esquerda, se não vier nenhum carro, passa... mas não corras! Quando chegares, faz o teu lanche e faz os trabalhos de casa sim ? ". E assim foi, eu vim da escola (sozinha), com a chave na mão, mochila às costas, e a saltitar. Cheguei à beira da estrada, olhei para a esquerda, depois para a direita e voltei a olhar para a esquerda. Depois, avancei. Tal como a mãe me tinha dito. Depois corri até casa. Abri a porta, e pousei a mochila na entrada, encostada ao móvel. Olhei em volta, e a casa estava tão vazia, tão silenciosa... Corri para a cozinha para comer o meu lanche, mas de repente lembrei-me que a mãe não estava em casa e por isso teria de ser eu a fazê-lo. Fiquei tão triste. Comecei a comer, mas o leite com chocolate não tinha o mesmo sabor, e a tosta não estava bem feita. Precisava tanto da minha mamã... Levantei-me, peguei na loiça e arrumei-a na máquina. Dirige-me ao corredor, peguei na minha mochila e tirei o livro. Hoje era a página 31. Sentei-me, abri o livro, peguei no lápis e comecei. Mas, não sentia vontade de fazer os trabalhos. Não era a mesma coisa sem a minha mãe a olhar para mim.. E se me enganasse ? Quem é que me corrigia ? Estava sozinha. Lá acabei de fazer os exercícios básicos, mas que na altura me pareciam um grande problema. Arrumei as coisas na mochila e fui para a sala. Liguei a televisão e meti no Canal Panda. Estava a dar os meus desenhos animados preferidos " Franklin " . Fiquei horas a fio a ver o Canal Panda, até que já era noite e senti alguém a mexer na porta de casa...

( continua )