quinta-feira, 2 de setembro de 2010

quarenta e seis. A carta

« meu amor, meu querido... sabes onde estou neste preciso momento? Estou sentada á beira-mar, a sentir o cheiro que vem do mar - que é igualzinho ao teu. Era onde nos encontravamos, lembras-te? E onde tu partiste, sem mais explicações... deixando-me pensativa, e indignada. E hoje parece que voltaste. Voltaste á minha mente, do nada. Então eu recordo todos os momentos contigo partilhados, desde a troca de palavras a fio, as caras envergonhadas, os sorrisos espontâneos e a troca de olhares de quando nos conhecemos, até ás lágrimas derramadas pela minha cara abaixo, os gritos desesperados e a troca de olhares com ar de adeus. Recordo-me de te implorar para que ficasses, ou para que me desses pelo menos uma explicação, mas nem para isso foste homem, foste apenas um animal de sangue frio. Deves estar admirado com o que já leste porque vindo de mim pode parecer estranho, mas desde que partiste muita coisa mudou, incluindo eu. Tornei-me fria, arrogante e amarga, e se hoje sou como sou devo-to a ti. Não quero saber de mais arrepios pela coluna, de mais sussuros ao ouvido, de mais palavras banais que saiam da tua boca, de troca de olhares, de sorrisos forçados... não quero saber de mais nada disso. Aliás, nem quero saber de ti! Por isso nem respondas a esta carta, queima-a. Queima-a como eu queimei as minhas lágrimas e as minhas lembranças.»

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