sábado, 5 de fevereiro de 2011

sessenta e um. Quem me dera...

« Como estás? Bem, espero. Espero também não ter vindo em má hora mas, o assunto é urgente. Acho que depois desta conversa poderemos nunca mais nos ver» - disse ele com um ar apavorado, e consciente. « Que raio? O que se passa? » - perguntei ainda mais apavorada e ao mesmo tempo impaciente. « Bem... não sei como começar, mas... senta-te aqui, por favor» - eu sentei-me junto a ele sem hesitar e sem perder tempo agarrou a minha mão com muita força. Parecia certo e seguro de algo. « Fala por favor... estou a ficar nervosa » - disse eu num tom forte e estridente, cada vez mais exaltada. «Tem calma por favor... o assunto é muito sério e sinceramente não sei como iniciar. Tive muito tempo evitando falar sobre isto, mas isto mesmo está a consumir-me por dentro, não aguento nem mais um minuto e por isso estou aqui, sentado ao teu lado e pronto para te contar o que se passa, ou passou neste caso. Peço-te para que não me interrompas. Que me oiças até ao fim, e só depois uses a tua palavra.» - Fiquei horrorisada com todo este discurso, parecia que me ia contar que tinha morto alguém . Seria ele um serial killer ? «(...) estás a ouvir-me? » « Sim, estou . Desculpa.» - respondi um pouco envergonhada. « Como eu estava a dizer (...) » - prosseguiu ele sem demora - «(...) sabes que à uns dias fui sair com os meus amigos, é quase como que uma rotina. Fomos sair para as ruas da grande cidade sem grandes planos, sem destino planeado. Percorriamos o que o tempo nos dizia. Como sempre. Tu sabes. De garrafa e cigarro na mão. Até que nos deparámos com um grupo de raparigas... lindas, com bons atributos. Ficámos a observá-las e a mandar piropos - coisas de rapazes - até que uma delas se dirigiu a nós, e quando demos conta ao lado dela estavam também as suas amigas. Acabámos por ficar juntos durante tempo inderteminado. E subitamente, já era tarde. Estavamos todos alterados, sem consciência nenhuma ou quase nenhuma. O nosso andar era aos "S" e os sentimentos tinham um código genético diferente (...) » - ele pára o discurso e olha-me nos olhos. Interiorizei-o e foquei-me nos movimentos delicados dos seus lábios. Sinceramente, eu não queria ouvir mais nada, mas uma outra força me prendia ali. Estava certa do que iria ser o final daquele episódio. Iria descobrir naquele preciso momento a razão das minhas dores de cabeça constantes e o porquê do seu peso ( irónico não ? ). « (...) estavamos meio perdidos. » - retomou - « Decidi sentar-me num canto sozinho, e descansar um pouco. Mas a "solidão" em pouco tempo deixou de ter sentido. A "Aquela" do grupo que encontrámos, sentou-se ao meu lado e agarrou-me a mão. Não pude deixar de reparar no seu decote, e nas suas curvas. As pernas suaves e bem formadas(...) » « PÁRA!» - gritei sem controlo sobre mim. Estava passada. Não queria ouvir nem mais uma palavra que saisse daquela boca nojenta. Era certo e sabido o que ele me iria dizer. Algo do género: "Trai-te mas eu amo-te. Não estava consciente, e não me consegui controlar, um homem não é de ferro. Tenta perceber isso por favor e perdoa-me. " Não, não era isto que queria ouvir. «Por favor... deixa-me acabar. Pedi-te no inicio para que não me interrompesses... Ora, como estava a dizer: ela sentou-se ao meu lado e agarrou-me na mão, levantou-me o rosto e olhou-me nos olhos. Fixei-a. E sem conseguir controlar-me beijei-a. E a coisa desenrolou (...) Eu amo-te , eu tenho certezas disso... (...) » - ( Eu não disse? Era mais que óbvio. Mas para mim, chega! ) « Sabes uma coisa ? Esquece que eu existo. Não vales nada , e assim continuarás até ires para a cova! Eu odeio-te, e nunca mais te quero ver. Fica lá com a boazona da noite... " ai e tal, boas curvas, cara linda..." poupa-me! Queres um brinquedo sexual não precisavas de ir tão longe. » - Virei costas sem que ele pudesse dar mais algum tipo de explicação. Ligou-me várias vezes mas, eu nao dei parte fraca. Quem tinha errado era ele.. não eu. Era assim que deveria ser. Cheguei a casa e deitada na cama, todo o orgulho se transformou em lágrimas. Não queria acreditar no que tinha acontecido. Para mim ele era o meu mais que tudo, o meu amor. Antes tivesse ele morto alguém! Talvez seria melhor do que ter de lidar com o facto de ter sido traida! ( pura estupidez! no que estou eu a pensar?! ) O melhor é apagar tudo o que tenha a ver com ele e esquecê-lo. Seguir em frente de cabeça erguida e de preferência sem que a sinta pesada! Agora vou dormir. - Enquanto isto o telemovel nao parava de tocar, já sabia a musica do toque de cor. Era ele. Regeitei todas as suas chamadas até que ele desistiu. Adormeci ainda com as lágrimas na cara. Acordei e estava agora ( talvez ) preparada para o enfrentar... Liguei-lhe rapidamente para combinar um sitio para falar com ele. Desta vez com mais calma. Mas o telemóvel estava desligado... Isto, vezes sem conta. Até que já dominada pela preocupação fui procurá-lo em sua casa. Cheguei, e bati á porta com muita força e rapidez. Estava com esperança que ele me abrisse a porta, mas não. Foi a sua irmã mais velha: « Vieste procurá-lo? » - reparei no seu ar abatido e as lágrimas a correrem-lhe pera cara abaixo, a voz muito trémula e quase sem conseguir respirar - « Sim, mas o que se passa contigo ? E onde é que ele está ? » « Partiu.» - respondeu-me somente. - « Como partiu? para onde? » « Nunca mais o iremos ver , tal como lhe pediste. » - e as lágrimas continuavam a cair-lhe pela cara abaixo - « Estava de cabeça quente... » « Tarde demais... Ele deixou um bilhete esta madrugada em cima da cama para ti. Vou buscar para leres...» « Para mim ? » « Está aqui... » : « Quando leres isto, já não estarei entre vocês, não estarei do teu lado meu amor. Sei que agi mal contigo, que te desrespeitei. Mas estava e neste momentou estou arrependido. Como disse, não me consegui controlar... Os sentimentos estavam todos alterados , e não resisti. Não valo nada como disseste. Mas fica sabendo que te amo com todas a minhas forças e que jamais irei ter outra mulher. Agora é tarde e prefiro morrer do que saber que me odeias. Do que dar de caras contigo todos os dias e não te poder beijar, tocar e sentir junto de mim. Sentir-me desprezado por ti. Por isso, se um dia me perdoares, estarei cá em cima á tua espera. Um beijo, (...) » - Os meus olhos inundaram-se de lágrimas e subitamente elas caíram a fio pela minha cara abaixo, caí de joelhos e gritei... Estava tão arrependida quanto ele. Disse coisas que na verdade não sentia, porque eu AMAVA-O ! E agora? O que é que eu faço ? Quem me dera pelo menos saber o final daquela história, talvez não teria agido assim. Talvez ainda o tivesse do meu lado ...

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